18 de jul. de 2009

movimento X progresso


Posto aqui um artigo que considero leitura obrigatória para aqueles que levam a fé e o adventismo a sério. Este artigo foi um marco em minha vida como cristão e pastor, expressando muitas coisas que já pensava de forma eloquente e acrescentando linhas de pensamento até então não exploradas. Foi escrito pelo aposentado professor universitário de História da Igreja na Andrews University, o Dr. George R. Knight, homem cujas opiniões eu tenha em altíssima estima, apesar de nem sempre concordar com as mesmas. Neste artigo, no entanto, eu assino em baixo.
Foi publicado na revista Ministry e em 2006 na revista Ministério.
Espero que leve à reflexão.
forte abraço
shalom

Líderes que não sabem para onde vão estão perdidos, confundindo movimento com progresso.

George R. Knight
Professor de História da Igreja na Universidade Andrews, Estados Unidos.

O mundo é cheio de leis físicas e sociais. Durante algum tempo colecionei algumas delas. Há, por exemplo, a lei de Schmidt: “Se você mistura bastante alguma coisa, ela se dissolverá.” A lei de Weiler: “Nenhuma coisa é impossível para o homem que não tem de fazê-la por si mesmo.” Ou a de Jones: “A pessoa que pode sorrir quando erra em alguma coisa, pensou em alguém a quem culpar por seu erro.” Bastante conhecida é também a lei de Murphy: “Se uma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.”
Diante disso, resolvi tentar desenvolver algum pensamento crítico e sagacidade particular. O resultado foi a “lei de Knight”, com dois corolários para líderes. Em termos simples, essa lei diz o seguinte: “É impossível chegar ao seu destino, a menos que você saiba para onde está indo.” Primeiro corolário: Os líderes que não sabem para onde vão estão perdidos. Segundo: Líderes que estão perdidos, freqüentemente confundem movimento com progresso.
Comecemos a discussão com o segundo corolário. Para quem está integrado ao sistema adventista por muitos anos, é muito fácil confundir movimento com progresso, e é mais fácil ainda confundir estatísticas com êxito. Devo admitir que as estatísticas são impressivas e até inspiradoras. De aproximadamente um milhão de membros quando fui batizado, em 1961, a Igreja possui hoje cerca de 15 milhões. Há também uma vasta rede educacional, instituições de saúde, casas publicadoras, emissoras de rádio e televisão, além da penetração do evangelho em mais de 200 países do mundo.

Ainda na terra

Sim, as estatísticas são impressivas, mas precisamos lembrar que elas não são um fim em si mesmas. Talvez seu verdadeiro significado resida não tanto no que a Igreja tem feito, mas no que elas nos dizem que ainda precisamos fazer. Ademais, quando comparados com os mais de seis bilhões de habitantes do mundo, os quase 15 milhões de adventistas não parecem ser muitos. Se são 15, 30 ou 100 milhões, esses números podem significar falha, não sucesso. O problema que é a base para todos os outros problemas e desafios do adventismo é que a Igreja ainda está na Terra e não no Céu. Nunca deveríamos confundir o entusiasmo pelo crescimento de uma Igreja na Terra com o alvo real de chegar ao reino celestial.
Assim, embora as estatísticas tenham seu propósito e seu lugar, elas não mostram o que a Igreja deve ser. Representam meios para um fim, mas não devem ser consideradas o fim em si mesmas. Novamente, é bom lembrar que o movimento não é, necessariamente, progresso. Em nossas atividades diárias, necessitamos ter em mente esse pensamento. Um dos pecados mortais da administração é igualar a genuíno progresso o preenchimento de relatórios, elaboração de projetos, planejamento de campanhas e levantamento de fundos. A má notícia é que podemos estar gerando apenas movimento.
Como um garoto cavalgando seu cavalinho de balanço, podemos estar muito ativos, fazendo muito movimento, mas sem avançar para o nosso alvo principal. Não devemos perder a visão e os alvos que nos fazem adventistas do sétimo dia. Agindo assim, ficaremos perdidos, embora altissonante e entusiasticamente proclamemos que temos a verdadeira resposta para as indagações humanas. Aqueles que têm caído na armadilha desse segundo corolário representam um exemplo clássico do cego guiando outro cego.

Líderes perdidos

Isso nos leva ao primeiro corolário: “Líderes que não sabem para onde vão estão perdidos”; o que não significa perdição espiritual. É um caso de perdição ocupacional, de visão e missão.
Uma das maiores necessidades adventistas em todas as partes é uma revisão do futuro. Embora possamos estar satisfeitos com a maneira pela qual as coisas foram feitas no passado, necessitamos despertar para o fato de que modos familiares e tradicionais de fazer as coisas não são os únicos métodos de fazê-las, e, provavelmente, não sejam as melhores formas. Necessitamos rever caminhos mais efetivos de usar a mídia, vender literatura, administrar instituições educacionais e estruturar a Igreja para sua missão. E “mais efetivos” não significa algo como sobreviver, ou sobreviver com mais estilo e fundos. Isso pode ser satisfatório para empresas seculares, mas é inadequado para o planejamento adventista do sétimo dia.
Necessitamos focalizar sobre o fato de que nosso alvo não é administrar uma boa empresa na Terra, mas avançar a missão de tal modo que apresse o estabelecimento do reino de Deus. Líderes adventistas devem sair da mentalidade de empresários de êxito para a de revolucionários radicais com a missão de mudar a ordem mundial.
Se nossa visão de sucesso se restringe à perspectiva das avaliações terrestres comuns, permaneceremos neste planeta ainda por muito tempo. A Igreja pode estar no mundo, mas sua visão não deve ser a deste mundo. A única forma de sair do reino da perdição ocupacional é trocar a medida prevalecente de sucesso pela visão verdadeiramente radical de Cristo que pode transformar todos os símbolos mundanos de sucesso em um monte de lixo.
Na sugerida revisão do futuro, necessitamos parar de pensar matematicamente e começar a pensar geometricamente. Muitos de nós superestimamos os gráficos do crescimento da Igreja, como se eles nos levassem para cima. Se pensarmos e planejarmos conforme essas linhas, apenas ficaremos na Terra por muito tempo; talvez, pela eternidade. Se estou lendo corretamente a Bíblia, a Igreja, em algum ponto no tempo, experimentará um crescimento de tal magnitude que as estruturas terrestres serão incapazes de detê-la. É esse tipo de crescimento exponencial parte de nossa visão de futuro?
Além disso, é interessante registrar que mudanças radicais, massivas, não precisam levar muito tempo para acontecer. Em outubro de 1989, fui à então Alemanha Oriental a convite do governo daquele país. Quando a viagem foi planejada, nunca imaginamos que eu poderia viajar em meio da revolução que em poucas semanas derrubaria o sistema soviético. Toda estrutura caiu em uma noite; algo inimaginável para a maioria das pessoas. Como cristãos adventistas, esperamos ver uma mudança social e política tão grande que a queda do bloco soviético será insignificante em comparação a ela.
Porém, uma mudança tão fantástica não aconteceu por si mesma. Houve a atuação de pessoas que imaginaram um mundo diferente e correram riscos para fazê-lo acontecer. Os líderes adventistas necessitam pensar grande, se é que desejam ter parte nos grandes eventos de Deus, em lugar de correrem apenas na rotina do dia-a-dia. É desnecessário dizer, mas tais líderes espirituais devem estar dispostos a correr riscos e a sacrificar-se para concretizar a visão maior. Formas costumeiras de trabalhar e liderar já não mais funcionam. A Igreja necessita de líderes que possam imaginar algo melhor do que as realizações do passado e as do presente.

De olho no alvo

Esse pensamento nos leva de volta à própria lei de Knight: “É impossível chegar ao seu destino, a menos que você saiba para onde está indo.” Eu não iria ao extremo de dizer que alguns líderes adventistas estão confusos quanto ao propósito, mas alguns parecem um tanto atrapalhados quanto à forma de operar. Tenho experimentado a companhia de líderes e pastores distritais, em seminários e cursos de extensão realizados ao redor do mundo. Alguns deles têm relatado certos fatos que comprometem a qualidade da liderança cristã.
Já ouvi dizer, por exemplo, de pastores que não podem freqüentar cursos ou sair de férias, a menos que alcancem os alvos batismais. Foi então que alguns foram flagrados inventando fichas batismais com nomes copiados de sepulturas. Ouvindo tais histórias, me perguntei: Será que alguns de nós não estamos um pouco mais que confundidos no que tange a alcançar os alvos genuínos da Igreja? Sabemos realmente, como líderes, para onde estamos indo? Ou estamos simplesmente “brincando de igreja”?
Quero ser muito claro e explícito neste ponto. A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem apenas um alvo final e genuíno: a vinda de Cristo nas nuvens do céu. Esse alvo está além das conquistas humanas. Mas, em preparação para o segundo advento de Jesus, Deus nos deu uma mensagem para ser proclamada ao mundo todo. “Vi outro anjo voando pelo meio do céu”, lemos no Apocalipse, “tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo, dizendo em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, a Terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apoc. 14:6 e 7).
Essa mensagem do primeiro anjo é seguida por uma segunda que trata da queda de Babilônia (v. 8) e uma terceira elogiando os que pacientemente esperam a vinda do Senhor e que, enquanto esperam, guardam os mandamentos de Deus e mantêm a fé de Jesus” (v. 12). Imediatamente após a proclamação dessas mensagens, ocorrerá a segunda vinda, retratada nos versos 14-20.
Um razão pela qual me tornei adventista foi nossa compreensão dos ensinos de Apocalipse 14. O adventismo nunca se viu como mais uma denominação, mas como a reunião de um povo profético com uma mensagem especial a ser pregada para todo o mundo antes da segunda vinda de Cristo. É essa convicção que tem literalmente dirigido a Igreja Adventista aos mais longínquos rincões da Terra. Essa visão, com seu imperativo à missão mundial, tem levado gerações de jovens a dar a vida em favor da missão e tem levado membros mais velhos a sacrifícios financeiros para apoiá-los.
É a visão de uma missão escatológica para todo o mundo que tem feito do adventismo um movimento vibrante. Quando a denominação e seus líderes perdem essa visão e começam a vê-la como apenas mais uma igreja, o adventismo perde sua razão de ser. De fato, ele ainda poderia ser diferente por causa da guarda do sábado e algumas outras peculiaridades. Mas, para todos os propósitos, teria perdido sua razão bíblica para existência, independentemente de quantos milhões de conversos possam ser conquistados.
A liderança adventista deve conservar na vanguarda de seu pensamento coletivo o seu destino e a tarefa que Deus lhe confiou, segundo Apocalipse 14. O segundo advento é o alvo final, e a missão mundial é o alvo imediato que Deus lhe deu. Qualquer coisa que não contribua efetivamente para o cumprimento da missão final é descartável. Como Igreja, temos sido ótimos em adicionar coisas ao sistema denominacional, mas temos falhado no trabalho de podar aqueles aspectos do sistema que são menos que maximamente efetivos. Os alvos último e imediato devem ser a medida de tudo o que fazemos.
É agradável dizer que a missão mundial é o alvo imediato do adventismo, porém, mesmo essa missão deve ser, por sua própria natureza, uma missão sobre alguma coisa e alguém em particular. “A todo o mundo” é a visão missionária exata do adventismo. E o conteúdo de sua mensagem está especificamente apresentada em Apocalipse 14, especialmente o verso 12. Nesse verso, encontramos os três aspectos essenciais da missão adventista:
1. O segundo advento.
2. A importância dos mandamentos de Deus no tempo do fim, os quais serão uma questão decisiva no fim do tempo (ver Apoc. 12:17). É indispensável notarmos a alusão ao sábado no final de Apocalipse 14:7. O contexto é claro ao nos informar que, no fim do tempo, todo indivíduo será um adorador: ao Criador dos céus e da Terra (v. 7) ou à besta e sua imagem (v. 9). No verso 7, ainda nos é dito qual mandamento será mais decisivo nos eventos que produzem o desfecho glorioso da História.
3. A suprema importância de ter a fé em Jesus.

Mensagem equilibrada

Nesta altura, o ponto que necessita ser enfatizado não é apenas que Deus nos deu uma mensagem específica, mas que essa mensagem é caracterizada por seu equilíbrio. Com isso em mente, é importante notar que a proclamação fiel de uma mensagem equilibrada requer líderes equilibrados. O inimigo faz tudo para desestabilizar a liderança da Igreja, levando alguns pregadores a pintarem doutrinas com tons legalistas, negligenciando as grandes verdades do evangelho. Ou, faz com que outros enfatizem assuntos evangélicos com tal extremismo que negligenciam doutrinas como o santuário celestial, o sábado, e outras distintivamente adventistas. Há também líderes que, movidos pelo inimigo, provocam facções que vivem se confrontando.
Se a estratégia de Satanás é desequilibrar, a de Deus é equilibrar. O Senhor busca uma liderança que mantenha claramente o segundo advento como alvo genuíno da Igreja, bem como sua missão de pregar a mensagem dos três anjos ao mundo todo. Tal liderança deve ter em mente que a mensagem deve ser pregada com equilíbrio, enfatizando as grandes verdades evangélicas e aquelas que tornam distinto o adventismo, no contexto do cenário bíblico do tempo do fim.
Isso nos leva ao fechamento do círculo no coração da lei de Knight: “É impossível chegar ao seu destino, a menos que você saiba para onde está indo.” Deus nos revelou o alvo e a mensagem da Igreja, em Apocalipse 14. Pode até parecer arrogante para uma Igreja pequena dizer-se possuidora da mensagem de Deus para o mundo nos últimos dias. Contudo, nenhum outro corpo religioso foi incumbido dessa missão profética. E também pode ser que um pouco de “arrogância santificada” deva ser parte e parcela daquela liderança exercida pelos líderes que se dizem seguidores dAquele que Se declarou a Luz, o Caminho e a Verdade, e que os envia a levar Seu evangelho aos confins da Terra.
Com o passar do tempo, muita coisa muda no mundo e na Igreja. Porém, uma não mudou: a liderança deve compreender e estar comprometida com seu destino, se é que espera alcançá-lo.

2 comentários:

marcio goncalves disse...

onde tem esse texto em ingles?

André R. S. Gonçalves disse...

está aqui: http://www.ministrymagazine.org/archive/2005/july-august/knights-law-applied-to-church-leadership.html
boat