24 de dez. de 2008

capitalismo & eternidade


Ontem à tarde eu ouvi algo que me incitou a escrever este post.

Ouvi trechos do programa 'Café com o Presidente' do nosso presidente Lula explicando de forma simples e didática, que lhe é comum, à população o porquê deveria comprar e consumir. Ele conseguiu criar um clima tão bacana que fez com que o ouvinte se sentisse bem e até um pouco herói ao consumir neste final de ano e que quem não o fizesse poderia perder, a médio prazo, o emprego por causa disso. Claro que tudo isso foi dito advertindo o cidadão de que ele não deveria se exceder ou fazer dívidas sem planejamento... ;)

Desde que o Capitalismo rege a economia mundial a palavra de ordem é CONSUMO. O Consumo faz com que dinheiro passe de mão em mão, criando prosperidade (ou a ilusão da mesma) por onde passa. Money makes the world go 'round

O nosso mundo se tornou o mundo da propaganda, estimulando pessoas a comprar coisas que não eram necessárias, suscitando o desejo e associando status àquilo que está sendo apresentado e vendido e renovando e modificando esse desejo continuamente. Sempre há um modelo 2.0, 5.1, 7.2, etc.... acho que vocês entendem muito bem do que eu estou falando. A constante renovação é um fator indispensável ao Capitalismo e, em consequência disso, as coisas não são mais feitas para durar. Se fossem, depois de algum tempo, esse formato de economia teria um colapso, já que ninguém precisaria adquirir algo novo, pois o produto, sejam navalhas para fazer a barba ou automóveis, continuariam satisfazendo o consumidor, tendo pouco desgaste e perfeita usabilidade. 

Portanto, se tudo é feito para durar pouco e constantemente é suscitado o desejo da troca antes do produto anteriormente adquirido deixar de funcionar, há uma contínua linha de consumo, gerando produção, que gera empregos, que gera renda para os empregados (e empregadores), que, por sua parte, têm dinheiro para consumir making the world go 'round!

Até aqui nenhuma novidade para a grande maioria das pessoas.

E agora veio a crise, a recessão... e quem sabe até uma possível depressão nos Estados Unidos! 

Sem querer explicar a fundo esse assunto, especialmente porque não tenho condições da fazê-lo, descobriu-se que o que passou a sustentar a economia era o crédito. Na verdade muitos já sabiam disso, mas seguindo a teoria e ordem do grande campeão do liberalismo econômico Milton Friedman os grandes líderes mundiais chegaram à conclusão de que a Economia nunca atribuiria valor a algo que intrinsecamente não tinha. Afinal a Economia visa lucro e ela não iria enganar a si mesma a respeito do valor financeiro de, por exemplo, imóveis... A Economia se auto-regularia e o Estado não deveria se meter! Laissez-faire, laissez faire era a ordem do dia e eis que surgiu o turbo-capitalismo. E deram um prêmio Nobel para o sr. Friedman no ano em que eu nasci.

Hoje nós sabemos que crédito foi dado a quem não tinha tanto crédito assim. Isso criou uma sensação falsa de prosperidade. Mas uma hora a bolha tinha que estourar. E estourou!

Não creio que seja necessário explicar que em toda essa loucura o crescimento econômico sempre esteve acima de questões ambientais, questões morais, ética nos negócios e todas as outras áreas da vida... afinal empregos e renda para famílias eram algo muito mais urgente do que questões ambientais que envolviam a construção de fábricas no terceiro mundo proibidas em países desenvolvidos por não estar dentro das normas ecológicas; tudo isso era mais importante do que os presentes e subornos feitos para que os poderes e a população esclarecida não se manifestassem a respeito destes assuntos, corrompendo cada vez mais a classe de líderes do nosso e outros países. Enfim: aprendemos a viver a curto, quando muito, a médio prazo e esquecer das gerações que ainda estão por vir. Mais ainda... gostamos muito de falar do sobrenatural, das várias opções que imaginamos existir depois da morte, mas continuamos a viver um existencialismo superficial, vivendo de fato como se não existisse amanhã... não de uma forma positiva, mas sim destrutiva e egoísta. O diabo realmente conseguiu inculcar em cada um de nós a incapacidade de imaginar, muito menos querer, algo que dure para sempre, pois não combina com toda a nossa filosofia de vida. Isso acontece até na vida de professos e sinceros cristãos.

A Eternidade está na contramão da nossa época. Por mais que possa suscitar algum ardente desejo latente na alma de cada ser humano, parte da nossa essência colocada pelo Criador, raramente este desejo, ou melhor, saudade consegue dirigir o nosso dia-a-dia. Há quanto tempo eu não pauto as minhas decisões cotidianas naquilo que há de mais importante? Há quanto tempo eu não sonho com a eternidade? Será que já não estou tão acostumado com esta minha época que o desejo pela eternidade tenha sido apagado? "Desafortunado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24  

Paulo responde logo no verso seguinte... "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor..." Romanos 7:25a 

Apegar-se a Ele, o nosso Senhor, é o único jeito de não ficarmos sujeitos às influências da nossa época. Se isso não acontecer todos os dias através da comunhão com Ele, lendo a Sua Palavra e tomando tempo para uma conversa franca, sucumbiremos àquilo que nos cerca. Mesmo professando sermos verdadeiros filhos de Deus.

Que hoje consigamos de fato celebrar a festa da vinda deste Senhor em vez de celebrarmos a festa do Capitalismo... que celebremos a festa do Eterno em vez do efêmero.

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1-2

forte abraço

feliz natal

18 de dez. de 2008

o danado do contexto

Tudo nessa vida possui um contexto. Tirar citações do mesmo facilmente distorce a intenção de atos, palavras ou pensamentos. Distorcer, neste caso, não carrega a conotação de piorar ou até melhorar a informação... distorcer é reproduzir algo de forma irreal, não condizente com a intenção e informação original.

Isso invariavelmente acontece com conversas que ouvimos de terceiros. Acontece com notícias. Acontece com música. Acontece com tudo que carrega significado, tudo que seja informação. Também acontece com a Bíblia (e como acontece!).

A Bíblia deve ser uma das obras mais distorcidas com citações fora de contexto. Muitas destas com segundas intenções e muitas outras por pura ignorância. Fato é que o resultado sempre é devastador para a imagem que as pessoas têm Dela.

Creio que todos que prestavam um mínimo de atenção em notícias durante 1998 não tenham se esquecido por completo do edifício Palace II do ex-deputado Sérgio Naya. É um exemplo clássico de como má construção, materiais baratos, muita negligência e ganância corrompem toda uma estrutura que deveria ter sido feita para durar. Esses fatores não impediram que durante algum tempo pessoas morassem nesse prédio, vivendo normalmente, inconscientes do perigo e da destruição que estava iminente.

Essa tragédia ilustra bem o que muitas vezes também acontece com teorias e doutrinas religiosas ditas bíblicas. Várias perdem a sua validade e quando caem arrastam consigo pessoas que confiavam nelas matando espiritualmente alguns e ferindo muitos.

Nem todos os casos são tão calamitosos como o do Palace II. Em muitos casos o erro é visto a tempo e não comprometeu toda a construção. Um plano de reforma e reparo entra em ação para retirar e substituir os materiais que estão cedendo, quebrando e apodrecendo com materiais mais adequados e fortes com o intuito de evitar com que um bom edifício desmorone. Isso custa tempo, dinheiro e paciência, mas evita sofrimentos maiores, imensuráveis e impagáveis.

O mesmo pode e deve acontecer em relação à Bíblia. Teses, teorias e doutrinas sempre devem estar sob constante avaliação não somente em relação ao seu resultado, mas também ao raciocínio e textos que levaram à existência delas (uma mistura de método indutivo e dedutivo).

Um exemplo clássico (e bastante inofensivo) de mau uso de um texto bíblico no meio evangélico é Is 28:10 e 13. Esses versos têm sido repetidamente usados para exemplificar a metodologia com qual devemos estudar as Escrituras Sagradas, buscando textos em diferentes lugares para completar um grande quebra-cabeça sobre um tema bíblico (estudo sistemático). A idéia em si está em acordo com as Escrituras, pois reflete o método usado por Cristo ao conversar com os discípulos de Emaús (Lc 24:27), mas o texto de Isaías nada tem a ver com método de estudo da Palavra e sim com uma disputa entre Deus e a Seu povo.

No v.10 o povo debochava do profeta que, na visão deles, usava linguagem muito simplista e imatura (Is 28:9) e no v.13 Isaías reutiliza as mesmas palavras para mostrar que agora em vez de ouvir (v.12) terão que sentir as consequências através de um povo pagão (v.11). Em nada disso encontramos dicas de como estudar a Bíblia.

Como que este texto se tornou tão popular fora do contexto? Na verdade, não sei dizer ao certo, mas suspeito fortemente que tenha a ver com as seguintes três palavras que permeiam o nosso mundo: retórica, preguiça e tradição...

Todo esse post foi feito com o objetivo de nos levar a pensar um pouco mais nos materiais que nós usamos para construir os nossos edifícios. Afinal, muitas vezes não moramos sozinhos, o que nos torna responsáveis não somente por nós mesmos, mas também pelos outros ao nosso redor.

Sejamos conscientes!

forte abraço

shalom

raison d'être

São tantos os blogs hoje em dia que realmente demorei para criar o meu próprio. Após bastante reflexão chego a conclusão que, apesar da profusão de informações na bendita world wide web, posso acrescentar alguma coisinha ou outra à este mundo virtual insano.
O objetivo desse blog é fazer reflexões sobre coisas cotidianas ou rotineiras, em especial ligadas à religião e crença. Não quero necessariamente trazer novidades em termos de resultado, mas insisto em afirmar que a coerência e veracidade do processo são fundamentais para obter algo significativo e relevante (está aí o meu primeiro paradigma).
Algo somente é significativo quando tem conteúdo. No entanto, não adianta ter somente conteúdo e ficar no mundo das idéias ou qualquer outra estratosfera intelectual (local onde eu não tenho condições de perambular). É preciso ter aplicabilidade do conteúdo... portanto relevância.
Por isso que eu convido você que está lendo essas poucas linhas para juntos buscarmos significado e relevância no nosso dia-a-dia, olhando através das lentes do cristianismo bíblico, lentes que alguns consideram serem turvas e tortas, mas que pessoalmente encaro como perfeitas e tão necessárias para auxiliar os meus olhos quase cegos a enxergar a realidade como ela é.
forte abraço
shalom