10 de abr. de 2009

reverência


Reverência é a consequência da aceitação da presença de Deus. 
A aceitação pré-supõe a consciência desta presença.
Reverência é essência, princípio e não forma. 
Reverência deve ser um hábito, um hábito que surge da constante procura de estar consciente da presença de Deus. Esse hábito não é estático, pois ele se renova a cada dia, crescendo, acrescentando, relembrando, edificando e admoestando. É o hábito de ler a Palavra consciente da presença de Quem a escreveu. É o hábito de falar com Aquele que verdadeiramente está ao teu lado. Sendo assim a reverência cresce aos poucos quando eu me torno cada vez mais consciente da realidade espiritual através da caminhada com Deus.
Reverência não deve, portanto, se restringir a casas de oração. Ela precisa estar presente em cada momento de nossa existência.
Em tese as casas de oração abrigam pessoas que durante a semana lutam, algumas vezes em vão e outras vezes vitoriosamente, para manter a consciência e aceitar a presença de Deus no dia-a-dia. No Dia do Senhor elas devem se reunir para receber uma benção especial, diferenciada: a benção de juntos serem fortalecidos em um ato coletivo de conscientização. 
Primeiramente a conscientização da transcendência de Deus, do Deus Todo-Poderoso, do Deus Criador e Mantenedor (Sl 19:1). Afinal todos se reúnem naquele Dia específico porque Ele o estabeleceu (Gn 2:2-3). Ele, o Criador, assim o ordenou e nós, como criaturas, obedecemos (Ex 20:8-11). A consciência da transcendência de Deus nos relembra qual o nosso lugar. Oh, como isso é necessário! Quantas vezes eu me flagro pensando e agindo como dono de mim e do meu futuro. Como é importante semanalmente ser lembrado que isso é uma ilusão, que é o desejo de um coração querendo usurpar o lugar do Criador, que é a antiga vontade de querer acreditar que posso ser Deus (Gn 3:5). Quando nos tornamos conscientes disso de forma coletiva, nós enxergamos que estamos todos no mesmo barco como pecadores, carentes da Graça e da Misericórdia de Deus.
É aí que entra o segundo ato da conscientização: perceber que Deus não é somente transcendente, mas que Ele desceu até nós, caminhou entre nós, morreu e ressuscitou por nós e prepara um lugar para nós... um Deus que está próximo, imanente, Emanuel, Deus conosco (Mt 1:23). 
Quando todos juntos nos tornamos cientes desta realidade elos, invisíveis aos olhos, mas facilmente perceptíveis, se criam entre aqueles que compartilham essa consciência. Esses elos são estabelecidos pelo Sangue de Cristo e este mesmo Sangue nos torna membros: membros do Corpo de Cristo.
Desta forma temos o seguinte: a consciência individual da presença de Deus (comunhão pessoal) me leva a buscar a consciência coletiva da transcendência e imanência de Deus (comunhão congregacional¹) que, por sua vez, me leva a reconhecer que sou um membro do Corpo de Cristo.
Só falta uma coisa em todo esse raciocínio: é possível estar consciente da presença de Deus e não aceitá-la. O livre arbítrio que Deus deu a todas as suas criaturas dá esta abertura. Eu posso escolher se eu quero retribuir o Amor de Deus, pois uma coisa é certa: quem se torna consciente da presença de Deus se torna consciente, mesmo de forma limitada, de que Deus é Amor. Deus se manifesta a todas as Suas criaturas incessantemente, demonstrando Seu Amor por cada uma delas. O livre arbítrio consiste em escolher aceitar e retribuir este Amor ou ignorá-lo. 
O exemplo clássico disso é Lúcifer. Constantemente consciente da presença de Deus um dia decidiu ignorar em vez de aceitar e retribuir. E continuou ignorando as incessantes manifestações de Amor de Deus até que um dia nem mais as percebia, se tornando insensível às mesmas.
Não basta estar consciente. É preciso aceitar a presença de Deus.
Reverência é a consequência da aceitação da presença de Deus.
Reverência, portanto, é Adoração.²
Um forte abraço a todos
Shabbat Shalom


¹ Um culto congregacional que não procura conduzir os presentes à consciência dessas duas coisas (transcendência e imanência de Deus) está perdendo precioso tempo e não está cumprindo o seu papel.
² Substitua em todo o texto a palavra 'Reverência' por 'Adoração' e de repente algumas coisas poderão ficar mais claras.

8 comentários:

Marlon disse...

Gostei muito, André. Um grande problema nowadays...

André R. S. Gonçalves disse...

sempre foi, meu querido, sempre foi...
o que muda em nossa época é que a ausência de tempo para refletir tem aumentado a superficialidade da nossa comunhão...
forte abraço

Del disse...

Quando penso em reverência me vem a mente a música God Forbid do Point of Grace. As vezes a prática da religião se torna tão habitual que perdemos a noção da grandeza do encontro com Deus e ai, consequentemente a reverência. Isso me incomoda bastante. As vezes estamos tão envolvidos em fazer um culto especial acontecer conforme o planejado, um programa musical que a preparação e execução se sobressaem a Adoração e a reverência fica pra segundo plano.

André R. S. Gonçalves disse...

Del,
sempre haverá pessoas que starão ocupadas em auxiliar outros na adoração e, portanto, terão mais dificuldades em participar da adoração como os outros. Leva algum tempo para os ajuste da adoração acontecerem de tal forma que os organizadores da adoração também de fato participem como adoradores. O importante é começar encarando tudo como um serviço de adoração e não como um show para entreter...
ainda vou escrever sobre liturgia e o texto acima foi escrito para criar uma base para isso
forte abraço
Shalom

André Reis disse...

Brother, gostaria de sua apreciação sobre o artigo que postei no meu blog sobre Ellen White e Bateria... acho que vc vai gostar, está um tour de force!

Let me know!
andré

daniela araújo disse...

e ae, cunha?
anda visitando meu blog, mas que honra! rs...
vamos conversar qualquer dia desses por skype. bjos pra cris e pra criancada, meus sobrinhos (olha soh, sou tia!)...

dani.

Kátia Rocha disse...

Sem querer ser pretenciosa, acho que uma expressão resume a mensagem do seu texto: "temor de Deus".

As pessoas, de uma maneira geral, perderam tanto o temor do Senhor que, por não terem mais a consciência de Sua Santidade e Perfeição, se comportam como se Ele estivesse no mesmo nível humano que nós.
Mais que isso, "adoram" muito mais o pregador, o cantor, o templo, as tradições...

A falta de investimento no estudo da Palavra, na comunhão com Deus, na meditação do Seu infinito Amor e no exercício do verdadeiro cristianismo, geram essa superficialidade já mencionada aqui.

Minha oração hoje é que Ele opere em nós "o querer e o efetuar".

André R. S. Gonçalves disse...

Oi Kátia,
acredito que a expressão 'temor de Deus' ou até mais exato 'temor do Senhor' expressa somente o lado da transcendência. Entendo que você esteja preocupado com a excessiva ênfase na imanência, na proximidade, na intimidade com Deus que caracteriza muitos cultos evangelícos renovados e carismáticos em nossa época. A solução está no equilíbrio apesar de evitar usar esta palavra por tê-la ouvido muitíssimas vezes associada à idéias de compromisso em termos de princípios. Neste caso, o equilíbrio na adoração é da vontade Dele.
um forte abraço
shalom