29 de mar. de 2009

realidades I

Há duas realidades. Realidades que estão ligadas, mas cujas percepções foram separadas. Separadas pela grande queda, queda do ser humano.

A primeira delas é física. É a realidade que constatamos através dos nossos sentidos: a visão, a audição, o tato, o paladar e o olfato. Estes nos transmitem a certeza de que existe algo além e fora de nós: a realidade física que nos cerca.

Sem os nossos sentidos não teríamos condições de ter contato com esta realidade. Cogito, ergo sum (penso, logo existo) só serve para termos consciência da nossa existência, mas é insuficiente para conhecer algo além disso.

A segunda realidade é meta-física, abstrata, mas prefiro chamá-la de espiritual. Ela é tão real quanto a primeira, mas passou a ser a mais importante. O ser humano também era dotado de sentidos que lhe comunicavam esta realidade de diversas formas, mas com a grande queda veio a morte, a morte espiritual.

Da mesma forma com que precisamos ter em primeiro lugar vida para que os nossos sentidos nos passem informações a respeito da realidade física nós precisamos ter vida espiritual para discernir as coisas espirituais que estão ao nosso redor.

Antigamente ambas as realidades eram percebidas com a mesma intensidade e clareza e, portanto, aparentavam ser uma só. Esta percepção se devia à perfeita interação entre as duas, pois se complementavam. Somente olhando para trás, depois da separação das mesmas, o ser humano foi capaz de perceber esta dupla existência, mas com este conhecimento veio também a experiência de viver esta separação, separação que a Bíblia chama de pecado.

A separação foi, de fato, da Fonte de Vida, Deus, de quem a raça humana se distanciou, causando a própria morte espiritual. No mesmo momento também deveria ter ocorrido a morte física, mas através da promessa expressa em Gn 3:15, a promessa de que viria um Salvador, recebemos vida temporária para que pudéssemos, de forma gratuita, receber nova vida espiritual através da confiança na morte nAquele que havia feito a promessa. Pois aceitar a morte de Cristo nada mais é do que reaver, pela fé, sem merecimento e, portanto, através de misericórdia a vida espiritual que todos nós perdemos na queda de nossa raça. Em outras palavras: reaver a vida espiritual é aceitar a Salvação.

Ao aceitar esta nova vida em Cristo os sentidos para a percepção da realidade espiritual são despertados. Inicialmente eles são imprecisos e dormentes, muito parecidos com os sentidos de um bebê recém-nascido. Aos poucos, muitas vezes à base de erros e acertos, descobrimos a existência deles e os desenvolvemos a cada dia até que estes sentidos se tornem mais aguçados e exatos. Isso não no isentará de falhas, da mesma forma com que o bom funcionamento dos sentidos do nosso corpo nos previne necessariamente de erros, mas com certeza sentidos bem desenvolvidos facilitam bastante a nossa vida.

O nosso grande desafio é (re)integrar as duas realidades. Tudo começa com a aceitação diária da misericórdia de Deus que se renova a cada manhã (Lm 3:22-23). Desta forma passamos a ter o essencial: a vida espiritual.

Em seguida precisamos não somente ter, mas viver a vida. Isso começa com os momentos de devoção com Deus através da leitura da Sua Palavra e da comunicação direta com Ele através da oração e deverá terminar somente quando nos deitamos para dormir no fim daquele dia. Através disso os nossos sentidos espirituais começam a ser fortalecidos: a visão (fé; Hb 11:1), a audição (Is 30:21), o tato (Is 41:10), o paladar (Sl 34:8) e o olfato (II Co 2:14-15).

E desta forma, aos poucos, as duas realidades começam a se fundir cada vez mais até que um dia ambas voltarão ser percebidas como uma só por ocasião da volta de Cristo.

Ora, vem Senhor Jesus. Adveniat!

Forte abraço

Shalom

imagem: Five Senses - Lairesse

(conforme postado no devocional www.adveniat.com.br)

Um comentário:

Marlon disse...

Muito bom, Andre! Muito bom mesmo... Nesse mundo tao escorregadio entre realidades, verdades e mentiras, vale a pena parar e pensar nas coisas em seus devidos lugares!