17 de jan. de 2010

a ignorância é atrevida

Nos últimos quatro a cinco anos tenho percebido (com certa preocupação) uma intensificação da discussão de música & adoração, música sacra e assuntos afins. Estes assuntos estão longe de ser novidade, mas recentemente parece haver um esforço diferenciado em torno deste assunto. Quero deixar claro que nos meus 11 anos de ministério não tenho me manifestado publicamente a respeito deste assunto a não ser quando solicitado de forma específica e explícita.

Apesar de possuir condições técnicas de discutir este tópico, pois sou formado em teologia, sou pastor ordenado e sou músico, tenho me refreado de discuti-lo pelas seguintes razões:

1) discutir com quem tem pouco conhecimento formal, seja teológico e/ou musical sempre é algo delicado, já que termos técnicos precisam ser explicados de forma profunda e exaustiva. No entanto, este esforço é feito sem que haja a certeza de que o outro lado irá compreender corretamente o que foi explicado, seja por falha da explicação ou do ouvinte. Este motivo sozinho não justifica a falta de participação, pois ele é comum à todas as áreas do saber e se todos adotassem esta atitude ninguém aprenderia nada novo.

2) este assunto mexe profundamente com gostos pessoais e toda vez que especialmente música e religião são o tema central existe uma certa mistificação do assunto, além de um certo deslumbramento e encanto, especialmente por parte daqueles que pouco conhecimento têm. Este deslumbramento unido aos gostos pessoais anuvia muitas vezes o bom juízo e a capacidade de discernimento, fazendo com que pessoas partem para eisegeses em vez de interpretar textos da forma mais isenta e correta possível. Desta forma discussões que poderiam ser saudáveis se tornam pivô de julgamentos apaixonados e muitas vezes não refletem nada do verdadeiro espírito cristão que deveria reinar quando se discute um assunto tão relevante e significativo. A falta de cordialidade e respeito tem marcado muitas destas discussões.

3) por fim, tenho visto que a maioria das pessoas não está aberta a mudanças, algo que é extremamente humano. No entanto, parece que quando o assunto é música e adoração esta teimosia é intensificada. Para mim sempre surge a pergunta: porque devo me expor a ser mau compreendido e até ser julgado pelo meu próximo se não há aparentemente uma ínfima possibilidade de surtir algum efeito? Tem todos os ares de um trabalho de Sísifo.

Todavia devo admitir que tenho visto tanta gente escrever recentemente sobre esta área, pessoas que aparentemente se enquadram em algumas características que descrevi acima, que com muita oração cheguei à conclusão de que devo participar sim deste debate.

Procurarei não ser apologético, quando possível. Procurei colocar fatos e não opiniões.

Um fato é que a maioria daqueles que escrevem a respeito deste tema são pessoas amadoras e, portanto, apaixonadas e não poucas vezes carecem de competência técnica nas duas áreas. Isso não significa que não devam participar, opinar, escrever ou falar.... de modo algum! Só quero classificar estas contribuições. Reparem na seguinte analogia:

Você está com sintomas sérios de alguma doença. O seu vizinho, seus familiares, seus colegas de trabalho, todos sem formação na área de saúde e igualmente muito bem intencionados lhe aconselham várias soluções caseiras para os seus males. Seus sintomas, no entanto, são tão severos que você procura um médico. Este médico lhe examina e chega à conclusão que o seu caso é um caso de um especialista e lhe encaminha para um profissional que terá conhecimentos específicos para lhe ajudar.

Agora, é possível que o remédio caseiro resolva o caso e até pode ser que o médico especialista não resolva, mas não seria razoável dizer que a opinião do especialista, apesar de não ser palavra final, deveria valer muito mais do que a opinião do seu vizinho que não tem formação nenhuma?

Tem muito vizinho opinando na música & adoração, pouco médico falando e, aparentemente nenhum especialista.

É necessário que os vizinhos se enxerguem, os médicos sejam humildes para repassar o caso e os especialistas tenham coragem de se manifestar.

Acredito que chegou a hora!

um forte abraço

Shalom

6 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Boa Sorte, André! :) Gisele Pires Mota

André R. S. Gonçalves disse...

vou precisar de mais do que sorte... vou precisar de oração... ;)
forte abraço

SamJazzy disse...

wow! vou acompanhar de perto tudo isso! muito bom! Deus abencoe! e q mentes se abram quando "tocadas" pelo Espirito Santo de Deus. abracao

BoscoJoao disse...

Eita pastor que texto mais erudito. Quando voce falou em conhecimentos técnicos voce nao estava brincando não.

Agente bem pode dizer que foi por causa de Platão que as pessoas agem dessa determinada forma, já que a forma de filosofar de Platão é nunca proclamar um "vencedor" e sim que a dialética seja respeitosa. Os tópicos são falados e argumentados mas na hora da decisão nenhuma teoria se sobrepõe a outra.

Quanto a musica deveria ser as mesmas leis da vestimenta nao acha? Bom senso e decência, mas quem vai determinar a interpretação dessas duas palavras vai ser a moda ou o pastor?

André R. S. Gonçalves disse...

Olá João,
que bom ver você participando deste singelo blog. Seja bem-vindo.
Na verdade a Bíblia tem conceitos bastante claros sobre música e adoração, mas não são regras técnicas, mas sim conceitos filosóficos.
A analogia bíblica não seria com a vestimenta, mas sim com a vaidade que aborda a questão da vestimenta, entre outras.
"Bom senso" simplesmente não existe... ;). Enganoso é o coração do homem. No entanto, existe o fruto da leitura da Bíblia e da comunhão com Deus. Creio que nesta direção, com sinceridade de coração, existam soluções interessantes.
forte abraço