“Todas as coisas são
lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.
Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem.” I Co 10:23-24
Existe uma tensão natural na vida de cada Cristão que
alcança proporções muito mais elevadas na vida de Ministros, pessoas que estão em evidência pelo ministério que exercem. A tensão é: como posso ser quem eu sou e
ao mesmo tempo colocar o interesse do outro acima do meu?
A nossa época parece polarizar a vida do Ministro em dois
extremos. Por um lado existe o grupo que exige a ausência completa de
personalidade ou de traços pessoais para se encaixar em um molde que possa
agradar a todos, ou pelo menos à “maioria”. Muitas vezes o que se diz ser o
gosto da “maioria” acaba sendo definido por uma minoria eclesiástica ou uma
liderança pouco representativa.
Do outro lado existe um grupo que acredita que o Ministro
deve ser autêntico. Autenticidade é
definida como o Ministro dar vazão a todas suas ideias, preferências e gostos.
Justifica-se esta atitude afirmando que qualquer outra coisa seria hipócrita. Hábitos lícitos, todavia
inconvenientes, são interpretados como expressão de autenticidade em vez de
serem compreendidos como imaturidade, seja pessoal e/ou ministerial.
Aqui o texto de Paulo é relevante.
Ele afirma que há espaço para diferença de opiniões e que grupos diferentes
terão definições diferentes a respeito daquilo que é “lícito” e “inconveniente.”
Um excelente exemplo é a compreensão de Paulo em relação
à função da mulher naquela época. Por um lado ele afirma que a mulher deve
ficar calada na congregação de Éfeso (I Tm 2:11-12). Ao mesmo tempo ela estava
livre para orar publicamente e pregar na Igreja de Corinto, se colocasse um véu
na cabeça (I Co 11:2-16). O que mudou? O autor e a época são as mesmas, mas a
cultura local fez Paulo adaptar a recomendação. O princípio, no entanto,
permaneceu: não causar distração ou escândalo à Mensagem do Reino. Época,
cultura e geografia evidentemente exercem influência sobre coisas lícitas e
inconvenientes.
Paulo deixa claro que há espaço para diversidade na
Palavra de Deus e no Reino. Aceitar, compreender e abraçar esta diversidade não
é uma opção, e sim um dever para aqueles que são cidadãos do mesmo.
No entanto, um importante traço que caracteriza o cidadão
do Reino é a busca pelo do interesse do outro. É este tipo de atitude que
divulga o Reino mais do que qualquer sermão, canção, reunião administrativa ou
até batismo. E é este tipo de sacrifício que Deus pede de todos, inclusive de
Ministros, pois estes estão em evidência de maneira especial.
Paulo deixa claro que há limites para expressão da
personalidade e este limite está no próximo. Ele está ecoando o que já falou em
I Co 8:9 (“Vede, porém, que a vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser
tropeço para os fracos”) e também o que Jesus já havia dito quanto ao “fazer
tropeçar a um destes pequeninos” (Mt 18:6; Mc 9:42; Lc 17:1).
Ministério é serviço. Serviço, no entanto, é muito mais
do que pregar, cantar, batizar, dirigir uma comissão ou qualquer outra
atividade comumente associada ao Ministério. Isso é fácil! Difícil é abrir mão
de si mesmo em função daqueles que nos cercam, primariamente os que convivem conosco
no cotidiano e, secundariamente, que estão sob nossa influência ministerial.
Afinal, não servimos a um nicho sociológico, mas sim a todos que influenciamos.
É claro que também este crescimento no servir é
imperfeito e frágil. Quantas vezes temos que reconhecer que erramos, pedir
perdão a Deus e ao nosso próximo e continuar na busca de nos submeter à vontade
Dele? Se não tenho feito isso ultimamente, quem sabe esteja na hora de parar e
avaliar.
Nesta (auto) reflexão sobre ministério chego a uma óbvia conclusão: preciso permitir que o Senhor tire as minhas vontades e
preferências de dentro de mim e as substitua pela Sua vontade, pois somente esta é perfeita. Como consequência não deixarei de ser quem sou, não perderei
a minha personalidade; eu serei o melhor eu possível, pela Sua Graça e pelo Seu
poder.
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