14 de out. de 2010

soberania

Nos últimos tempos tenho lido e estudado o livro e o personagem Jeremias. Confesso que é um livro duro de ler. Não falo isso necessariamente pelo conteúdo, muito menos pelo estilo, mas sim pelas circunstâncias e pela tarefa que Deus lhe deu.
Jeremias era um jovem idealista e nacionalista. Era filho de sacerdote e tinha uma vida planejada neste mesmo sentido. Como muitos ele amava o seu povo, acreditava que este povo havia sido escolhido por Deus de forma praticamente incondicional. Também amava sinceramente o Templo e tudo que ele representava (a moradia e presença de Deus na Terra). De repente, aparentemente do nada, Deus o chama para ser profeta. Haviam profetas naquela época, mas era uma profissão meio institucionalizada, sendo diplomáticos, usados para motivar o povo na direção da vontade do rei, etc., etc., etc. Jeremias estava prestes a perceber o quanto estes profetas não eram de Deus.
A parte mais difícil para Jeremias foi o conteúdo da mensagem que Deus queria que ele passasse. Ele deveria dizer ao rei, aos líderes e ao povo que Deus iria levá-los ao exílio incondicionalmente. No entanto, ao ler os primeiros capítulos do livro (que, por sinal, foram escritos durante o reino do rei Josias e sua tentativa de reforma, que infelizmente foi incompleta) fica claro que, na verdade, estas profecias eram incondicionalmente condicionais. Enxergamos Deus sempre apelando para que voltassem para Ele e que, assim, Ele teria misericórdia.
Todavia esta mensagem era uma mensagem extremamente impopular, não somente para os Judeus, mas para o próprio profeta. No começo ele era visto como um incômodo, algo desagradável, mas conforme o passar do tempo ele foi classificado como falso profeta até chegar ao ponto de ser condenado como traidor do seu povo e de todo o seu legado e herança como povo de Deus. Afinal, ele passou a proclamar que deveriam abrir as portas da cidade de Jerusalém para o exército do Norte, que posteriormente ele identificaria como sendo o exército dos Caldeus liderados por Nabucodonosor. Tente se colocar nesta situação, sendo um jovem nacionalista falando para o próprio povo que não deveriam resistir à tentativa de conquista de um povo pagão. Mesmo tentando é improvável que consigamos sentir o desespero, a solidão e o desalento deste jovem profeta.
Hoje eu li Jeremias 24 e gostaria de compartilhar o que aprendi com o mesmo. Ao ler o capítulo percebi que os caminhos de Deus são estranhos aos nosso olhos. O primeiro exílio já havia ocorrido e os melhores entre o povo haviam sido levados por Nabucodonosor para Babilônia. Era uma estratégia interessante, pois visava 'converter' os intelectuais, os artistas, os artesãos e os líderes do povo à cultura dos Caldeus. Para o povo Judeu, no entanto, era o momento de maior humilhação em toda a sua história, pois o cumprimento da maldição máxima (Dt 28), resultado da quebra da Aliança entre Deus o Seu povo, já havia se cumprido.
No entanto, neste capítulo Jeremias declara que estes que haviam sido exilados seriam abençoados e fortalecidos por Ele e encontrariam Salvação (v.4-7). Deus usaria este maior dos castigos para salvá-los. Ele usaria a maior das maldições para que se tornasse uma benção para aqueles que permitissem. Apesar das dificuldades do exílio podemos ver como esta profecia (mais uma vez condicional) se cumpriu em Ester, Daniel, Edras/Neemias e outros mais.
Este capítulo me fez perceber mais uma vez como Deus é soberano e cuida de tudo. Ele permite que soframos as consequências dos nossos erros, mas sempre abre espaço para que em meio a estas consequências recebamos bençãos imerecidas e sejamos uma benção para aqueles que nos cercam.
Hoje eu sai da minha meditação confortado porque fui relembrado de que Deus é soberano e se eu me submeter, mesmo após falhas, Ele transformará maldição em benção, sendo que a benção maior é a minha salvação.
Tenha um dia abençoado.
Shalom

Um comentário:

Unknown disse...

De fato nossa forma de enxergar Deus faz toda diferença no entendimento dos relatos bíblicos. Se o vemos como um Deus punitivo, vingador e vaidoso, acharemos que seus atos também o são. Se o enxergamos como verdadeiramente é, um Deus de amor, interessado sempre em salvar, a despeito de nossos erros, veremos que Ele age com essa intenção, mesmo que à primeira impressão os textos possam nos fazer pensar o oposto. Temos que ampliar nossa visão de Deus e seus atos no contexto do grande conflito.