18 de dez. de 2008

o danado do contexto

Tudo nessa vida possui um contexto. Tirar citações do mesmo facilmente distorce a intenção de atos, palavras ou pensamentos. Distorcer, neste caso, não carrega a conotação de piorar ou até melhorar a informação... distorcer é reproduzir algo de forma irreal, não condizente com a intenção e informação original.

Isso invariavelmente acontece com conversas que ouvimos de terceiros. Acontece com notícias. Acontece com música. Acontece com tudo que carrega significado, tudo que seja informação. Também acontece com a Bíblia (e como acontece!).

A Bíblia deve ser uma das obras mais distorcidas com citações fora de contexto. Muitas destas com segundas intenções e muitas outras por pura ignorância. Fato é que o resultado sempre é devastador para a imagem que as pessoas têm Dela.

Creio que todos que prestavam um mínimo de atenção em notícias durante 1998 não tenham se esquecido por completo do edifício Palace II do ex-deputado Sérgio Naya. É um exemplo clássico de como má construção, materiais baratos, muita negligência e ganância corrompem toda uma estrutura que deveria ter sido feita para durar. Esses fatores não impediram que durante algum tempo pessoas morassem nesse prédio, vivendo normalmente, inconscientes do perigo e da destruição que estava iminente.

Essa tragédia ilustra bem o que muitas vezes também acontece com teorias e doutrinas religiosas ditas bíblicas. Várias perdem a sua validade e quando caem arrastam consigo pessoas que confiavam nelas matando espiritualmente alguns e ferindo muitos.

Nem todos os casos são tão calamitosos como o do Palace II. Em muitos casos o erro é visto a tempo e não comprometeu toda a construção. Um plano de reforma e reparo entra em ação para retirar e substituir os materiais que estão cedendo, quebrando e apodrecendo com materiais mais adequados e fortes com o intuito de evitar com que um bom edifício desmorone. Isso custa tempo, dinheiro e paciência, mas evita sofrimentos maiores, imensuráveis e impagáveis.

O mesmo pode e deve acontecer em relação à Bíblia. Teses, teorias e doutrinas sempre devem estar sob constante avaliação não somente em relação ao seu resultado, mas também ao raciocínio e textos que levaram à existência delas (uma mistura de método indutivo e dedutivo).

Um exemplo clássico (e bastante inofensivo) de mau uso de um texto bíblico no meio evangélico é Is 28:10 e 13. Esses versos têm sido repetidamente usados para exemplificar a metodologia com qual devemos estudar as Escrituras Sagradas, buscando textos em diferentes lugares para completar um grande quebra-cabeça sobre um tema bíblico (estudo sistemático). A idéia em si está em acordo com as Escrituras, pois reflete o método usado por Cristo ao conversar com os discípulos de Emaús (Lc 24:27), mas o texto de Isaías nada tem a ver com método de estudo da Palavra e sim com uma disputa entre Deus e a Seu povo.

No v.10 o povo debochava do profeta que, na visão deles, usava linguagem muito simplista e imatura (Is 28:9) e no v.13 Isaías reutiliza as mesmas palavras para mostrar que agora em vez de ouvir (v.12) terão que sentir as consequências através de um povo pagão (v.11). Em nada disso encontramos dicas de como estudar a Bíblia.

Como que este texto se tornou tão popular fora do contexto? Na verdade, não sei dizer ao certo, mas suspeito fortemente que tenha a ver com as seguintes três palavras que permeiam o nosso mundo: retórica, preguiça e tradição...

Todo esse post foi feito com o objetivo de nos levar a pensar um pouco mais nos materiais que nós usamos para construir os nossos edifícios. Afinal, muitas vezes não moramos sozinhos, o que nos torna responsáveis não somente por nós mesmos, mas também pelos outros ao nosso redor.

Sejamos conscientes!

forte abraço

shalom

2 comentários:

Zierley Jardim disse...

parabéns! ótimo texto de estréia. add seu blo nos meus favoritos.
um abraço e ótimo natal pra vc!

André R. S. Gonçalves disse...

valeu, Mr. Zierley...
ótimo 2009 para vc
shalom